Em 26 de julho se festejou mais um Dia da Avó, data escolhida por ser dedicada a Santa Ana, mãe de Maria, avó de Jesus Cristo. Não é comum a gente encontrar mulheres que estejam, digamos, ‘ansiosas’ para entrar na lista das avós, talvez por medo da tal da terceira idade ou por não vislumbrarem a maravilhosa experiência que deve ser ter nos braços alguém que oferece a possibilidade de redenção de todas as nossas falhas e enganos durante a maternidade. Avó é mãe com açúcar – e experiência.
Não pretendo interferir no ritmo da vida, faz tempo que a Gestaldt* (e alguns tombos) me ensinaram que não se apressa um rio, mas sei que quando me tornar avó estarei apta a fazer tudo certo, pelo menos dessa vez.
Vou ensinar algumas coisas básicas aos meus netos, principalmente que poderei ouvi-los a qualquer momento, que meu colo será sempre deles, como é (e será) da Verena e do Carlos. Quem sabe consiga convencê-los que vale a pena apreciar e consumir saladas, frutas e verduras, essas coisas que hoje ainda estou aprendendo… Talvez os detalhes de duas (ou três) ‘lipos’ com a tecnologia dos anos noventa (quase pré-história da cirurgia plástica!) e de como é triste não entrar num jeans, ajudem. Algumas fotos também.
Uma coisa é certa, vovó não vai entupi-los com farofa, pizza, batata frita, refrigerantes e biscoitos recheados. Muito melhor será aplaudi-los quando rechearem uma calça nova com graça e formosura, uau.
Daqui até lá, além do botox, finalmente terei descoberto o prazer da atividade física e serei testemunha que saúde e preguiça, decididamente, não combinam. (Um, dois! Em cima, em baixo…! Me aguardem!).
Com alguma arte, talvez seja capaz de mostrar o quanto é importante que meninos e meninas se tornem parceiros e cúmplices; que TPM existia sim, mas a gente aprendeu a controlar, isso é passado. Que mulheres são difíceis de entender, mas nem sempre precisam ser decifradas, se forem muito, muito amadas.
Que meninos choram sim, não importa em que idade, pois isso os torna muito melhores.
Quero brincar com eles e não apenas ‘tomar conta’, quero contar carneiros nas nuvens; guardar aquele valioso monte de quinquilharias quebradas e zelar para que não se perca nem uma pecinha de lego ou do quebra cabeças já pela metade.
Quero ouvir com genuíno interesse, aquelas histórias sem pé nem cabeça que só avós sabem escutar e entender o enredo. Quero dar-lhes mesada, anotada numa caderneta que nunca acusará quantos meses ‘adiantados’ já estão no débito; e concordarei que o tênis que emite feixes de laser e toca mp5000 é um ótimo investimento.
Acharei uma oportunidade para contar histórias de amores possíveis, de amores impossíveis que se tornaram realidade; de fantasmas apaixonados e cães que se perderam e voltaram para casa; e todas elas terão finais felizes. Desejo que apreciem a leitura e saibam que bom humor também é fundamental.
Que tenham certeza que eu e eles seremos quase uma gangue, que podem contar com meu testemunho e álibi, e que confiança é assim mesmo, a gente sabe que, com avó, se pode contar.
Minha mãe tinha um quadrinho que dizia “Aqui reina a alegria e a sutil bagunça das pessoas felizes”. Quando se mudou para um apartamento menor, encontrei outro, lembrando-nos que “Nenhum lugar é pequeno demais onde existe amor”. Penso que os dois se completam, como avós e netos, como café e boa companhia.
Quando tiver netos, rogo aos céus que me faça humilde e inteligente para aprender com eles; que possa rever meus velhos conceitos e acatar os novos, que agradeça, todos os dias, a maravilhosa experiência de ser uma avó bacana – como se dizia no tempo em que era neta.
(Escrito em 26 de julho de 2011)