Da idade (da série “Cartas”)
Caríssima,
Normalmente respondo em particular; o seu e-mail, entretanto, foi tão pertinente que resolvi democratizar (arre!) nossas aflições.
Pois é, estamos assim, muito felizes, às vésperas da tal melhor idade, imaginando como será a vida mais adiante. Muitas – em especial as que dariam parte do fígado para continuar nos quarenta – vão protestar que “entregamos os pontos” cedo, ainda somos jovens e coisas do tipo.
Vamos ser francas! Ninguém é “jovem” aos cinquenta e cinco. E é bom lembrar isso, para não cometer sandices e viver cada vez melhor. Aceitar o tempo e dar boas vindas àquilo que pode ser a cereja do bolo (depende de você) não é “entregar os pontos”: não abrimos mão de nada, pelo contrário; não desistimos da maturidade alegre e reconfortante – como uma boa amiga. Preparar a casa para recebê-la com pompas (saúde física e emocional) é que faz a diferença. O resto é resto.
Você se queixa da (real) possibilidade de não mais viver uma paixão tórrida. É, acho pouco provável, mesmo. Mas dá para viver um novo e múltiplo amor, por si mesma e por quem até lhe cause uma paixãozinha… Se já estiver com alguém, mesmo que já tenha esquecido o que é paixão (eles esquecem, sempre!), melhor investir num bom amor antigo, do que procurar um novo – que pode não ser seu número.
Beleza? Inflar lábios, cortar franja, aplicar botox nos mamilos, passar fome, se enfiar num vestido que parece uma salsicha, pode funcionar para muitas; para outras não. E daí? Se lhe faz bem, corra atrás. Particularmente, só procuro o que – e quem – vale a pena. (Arrisque um botox na testa, tem seu valor!)
Diversidade faz a vida interessante e ninguém está totalmente certo ou errado. Somos diferentes e vou morrer assim, vivendo do meu jeito; escolher ser feliz é sempre a melhor opção. (Relevar, meu bem, relevar!)
Muitos já disseram que detestam a expressão “no meu tempo”. Eu, não. Gosto de lembrar que sou do tempo em que se esperava uma eternidade para fazer uma ligação, pois hoje me encanto com o que um celular pode fazer por mim – e reclamo menos. Quase sou do tempo de casamentos eternos – mesmo que amor ou o respeito acabassem antes. Para romper, era preciso coragem e sangue frio! Hoje, casais “ficam”, vivem juntos, dormem na casa dos pais, casam e separam sem nenhum -ou quase- problema. Não é muito mais prático?
A vida melhorou até nas pequenas coisas, amiga! Somos do tempo em que moça de família só usava esmalte clarinho. Quase como desforra, ouso azuis e verdes – e me divirto olhando os pés coloridos… Como é bom (poder) não se importar com o que vão pensar; de outra maneira, de que adiantaria ter lutado pela tal liberdade?
Pois é, assim caminhamos nós. Falando em caminhar, concordo com você. Essa é uma parte difícil aqui em Belém, não só para maduros. Infelizmente nunca se investiu em educação de fato – aquela que forma bases sólidas – tampouco o alcaide lembra que calçadas são tão importantes quanto asfalto, ou até mais… OK, calçada é responsabilidade do morador, cada um que mantenha a sua; o que se vê, quando existe, é cada uma num nível, obstáculos, buracos e toda sorte de lixo… (Educação, lembra?) Piora quando a prefeitura (vivem fazendo isso!) quebra o que já existia (obras, querida, obras!) e abandona tudo pela metade. A chuva e mais lixo dão o toque final e… “Voilá” Belém – que amamos sem explicação ou justificativa.
Talvez por isso, aos poucos, resolva passar mais tempo lá que cá, ou acabe escrevendo sobre viagens que fiz ou gostaria de fazer… Talvez por isso simplesmente não consiga engolir os “éguas” e “tus” que a TV agora me oferece, como um tacacá mal feito ou um texto cheio de vírgulas fora do lugar. Rabugice? Eu posso, querida; finalmente eu posso.