Se existe coisa da qual o belenense reclama, é o lixo. Lembram da coleta seletiva que iria passar na minha rua? Balela, como quase tudo que leve assinatura do atual prefeito, que sabia como fazer, mas não fez nem o sucessor. Investimos em lixeiras, separamos e lavamos tudo e, no final, um monte de recicláveis acabaram no… Lixo. Mais exatamente no Aurá, área do Parque Ambiental do Estado, que deveria preservar a água que eu e você consumimos – quando dá para consumir, é verdade. (Sempre me perguntei se o Governador e o Presidente da Cosanpa tomariam um copo dessa água? Eu, não tomo!)
Durante a passagem da Santa, no sábado; percebíamos uma televisão ligada, em cada lar. Era o efeito Carminha, muitos querendo participar – ou testemunhar – o linchamento da figura que mostrou um pouco do que o ser humano é capaz, por dinheiro. Durante quase um ano, acompanhamos as desventuras dessas personagens saídas do Lixão, ficção que dourou um pouco a realidade que sempre esteve aqui ao lado e fingimos não existir. No lixão global, a casa de Lucinda parece brinquedo, com cortinas de CDs, paredes de latinhas reluzentes, na mesa um café fumegante… Nem parecia feder tanto assim, não é?
No Aurá, a coisa é muito, muito pior. A montanha já chega aos trinta metros de altura. Centenas de pessoas – crianças, idosos e gestantes incluídos- perambulam sem nenhuma proteção, tirarando o sustento do que poderia ser melhor – dignamente – aproveitado, se as duas prefeituras (Belém e Ananindeua) assumissem responsabilidades no processo. O chorume – líquido escuro e fétido que escorre da decomposição – é um veneno. A céu aberto, contamina solo e rios, não há vida onde ele passa. E você sabe onde está escorrendo? Quando for ao clube mais elegante da cidade, dê uma “esticada” e passe lá para conhecer nossos Picolés, Ritas e outros tantos…
Respeitada jornalista e blogueira local levantou o tema e lembrou do Programa de Aquisição de Créditos de Carbono (lembra?) cujo dinheiro ninguém sabe, ninguém viu. Quer dizer; bem, você sabe…Ministério Público, Procuradoria da República e alguns poucos e corajosos interessados já trataram do assunto que tramita no Judiciário desde 2006, mas a situação continua a mesma: cruel, desumana e estúpida. E por que, aqui, tudo que precisa de atitude e decisão, sempre se arrasta?
Por nossa culpa. Sim, minha, sua e “deles”. Somos, antes de tudo, extremamente preguiçosos. A gente até reclama, faz aquele bafafá, mas, se der algum trabalho, se exigir que se tire o traseiro do ar condicionado, é melhor deixar prá lá, afinal, “não temos nada com isso”.
Somos culpados e merecedores do tipinho de político a quem passamos procuração, para fazer n-a-d-a. Culpados e merecedores da falta de compromisso, pois silêncio é conivência explícita. Ou você duvida que, se cada um de nós fizesse sua parte, esse e outros absurdos já estariam resolvidos?
Só que nos falta “tutano”; cada um tem uma razão, uma sinecura de um parente – ou a própria – que “justifica” manter o bico fechado e… Você já sabe, o lixão do Aurá vai continuar lá e a gente acha que entende de lixo só por assistir novela.
Nossa ancestral ignorância aos próprios problemas deixa a impressão que a maioria conhece Miami – ou “Sun Paulo”, pronto – melhor que a terrinha, que dizem amar acima de todas as coisas. Compartilhamos bandeiras, torcemos (pelos vitoriosos, claro), divulgamos fotos de Pato no Tucupi. Cometemos arroubos mentirosos que disfarçam o descaso com que tratamos nossas próprias feridas: ignoramos o que nos constrange. Comodamente, deixamos de nos indignar e ligamos a TV.
Por que “eles” haveriam de nos respeitar?
Ôi,ôi,ôi…