Adoro escrever contos e crônicas que não falem de mim. Imagino uma heroína alta, magra, bem de vida e de coração… A pena imaginária corre fácil no teclado, aqui e ali, uma crise no romance – toda heroína que se preze tem que chorar um pouquinho, faz parte dessa coisa complicada que é amar! Não existe felicidade sem dor então, toma-te!
Andei lendo o tão falado “Cinquenta Tons…”. Honestamente, se era pornô – ou erótico, vá lá – mestre Ubaldo fez melhor: aquilo sim, é de fazer corar tudo e mais alguma coisa. (Mas ele ainda se encheu de dedos…)
O livro da inglesa (que foi executiva de TV, em Londres) não é tão ruim quanto andam comentando. Estranhei a narrativa no presente do começo ao fim, não gostei do corte abrupto (demais, para quem não tinha o outros dois volumes) e, para falar a verdade, surpresa mesmo foi o tema: a iniciação sexual de uma jovem (“normal” como qualquer outra) por um “Dominador”. Ou seja, uma mulher sem nenhum paradigma, escolhe experimentar. Isso é novo, muito mais do que as práticas SM. Mas o “mocinho” (?) é de tirar o fôlego: Um homem lindíssimo-riquíssimo-generoso-culto-educado-competente-gostoso-alto-forte-de-olhos-cinza… Quem iria resistir? O cara é “tão-tão” que o chicote (de couro legítimo e plumas macias vindas…Enfim.)fica em segundo plano. E o resto é grife, luxo, poder e riqueza. E grifes, muitas e muitas, tudo tem uma boa marca e referência.
O sucesso é me embasbaca! E sabem a razão? Sexo! Dizem que, cada vez mais, o mundo faz menos sexo de verdade, ao vivo e a cores. Já no mundo virtual, os números são estratosféricos… Como gostam de ler sobre aquilo que talvez não façam, arre!
Mas uma coisa é certa, E. L. James foi muito desencanada ao publicar sua trilogia envolvendo um tema que pede floreios e disfarces. Para a Casa dos Budas Ditosos- publicado inicialmente na série “Plenos Pecados” (Editora Objetiva) contemplando a Luxúria- ele diz ter recebido as gravações de uma senhora de 68 anos, contando sua vida de explorações das mais diversas possibilidades do sexo. Então tá.
O engraçado é que, até entre puritanos – conservadores, vá lá, de novo! – “sacanagem” sempre faz sucesso, mesmo que seja o livro da Bruna Surfistinha contando aquilo que ela diz ter vivido; se é verdade, agora o que importa é a versão. Ou a imaginação.
Tenho um livro, humm… Adulto, digamos assim, prontinho. Se fizer mais uma revisão, minha protagonista (que nem é alta, magra ou rica) vai acabar virando missionária da Cruz Vermelha, de tanto que já tentei “melhorar” o caráter da moça – que, aliás, não é. O que aconteceu? Não tenho coragem para publicar, pronto, falei. Fico imaginando primeiro que ninguém vai comprar. Depois, se vinte comprarem, será fácil saber quem são e vou ficar neurótica, imaginando o que pensam de uma dona de casa que, um belo dia, resolveu escrever essas barbaridades. E o tempo vai passando, com minha criatura aprisionada num pen drive, sufocada num limbo magnético.
Fiquei imaginando… E se morro de repente, e alguém abre esse arquivo? Por via das dúvidas, passei um lacre advertindo que, nessas circunstâncias… Bem, ainda não sei quem haverá de herdar esses rascunhos descarados. E ela continua lá, presa por grilhões tecnológicos, suplicando que, pelo menos, deixe-a respirar num blog anônimo qualquer, onde possa contar sua vidinha que, pelo que pude ver por aí, nem é assim tão obscena.
Como disse outro mestre – Saramago- “Não é a pornografia que é obscena. A fome é que é obscena”. Eu acrescentaria: a maioria dos políticos, também.
Roubo, ainda, uma frase de CLB, a quase inacreditável senhora que enviou os originais de A Casa…, para Ubaldo: “É irresistível deixar as pessoas sem saber no que acreditar”. Que outra razão eu poderia querer para continuar inventando essas e outras histórias?